Estava eu, em casa, pensando sobre a vida e no quanto a moda existe (e resiste) em Belém. Minha experiência com o teatro me mostra o quanto é difícil trabalhar com arte nesta cidade leiga quando o assunto é políticas culturais. Pois bem, eu, assim como muitos, vejo a moda como arte. Se moda também é arte, e arte é cultura, e a cultura paraense é vista com poucos olhos, eu me perguntei: existe mercado de moda em Belém?
E fui além, como será que a galera que trabalha com moda nesta cidade vê isso? Então foi quando pensei em fazer uma matéria sobre o assunto com depoimentos de pessoas que convivem diariamente com esta questão.
São elas:
Cada um deles tem uma relação com a moda de forma diferente. Seja de caráter antropológico, mercadológico, ou nos bastidores, ambos vivem um pouco da moda em Belém. Penso eu, que escolhi direitinho as pessoas pra entrevistar e tirar minhas dúvidas em relação a este mercado tão criativo.
Atualmente, Belém tem dois cursos de moda, além do curso técnico em figurino, promovido pela Escola de Teatro e Dança da UFPA, e cursos livres que acontecem de vez em quando no Curro Velho e Casa da Linguagem. Mas, pra onde estes profissionais vão?
É um pouco difícil generalizar, mas de duas, uma: ou vão pra fora da cidade conseguir algo maior; ou trabalham aqui com algo relacionado à moda, mas que não são suas próprias coleções. Infelizmente, o discurso dos quatro entrevistados, quando perguntados se há mercado de moda na cidade, foi único: há, mas o trabalho autoral é menos valorizado e bem mais difícil.
Segundo a Amanda, temos muito potencial. "O mais incrível é que profissionais de fora
enxergam isso e a gente ignora. Acho que precisamos primeiramente começar a
consumir o que é feito aqui para que outras marcas se sintam confiantes para
entrar neste mercado e assim fortalecê-lo".
É nítido o crescimento de Belém em relação a anos anteriores, mas ainda precisamos de mais. De muito mais. Pro Fernando, a cidade ganhou em duas frentes nos últimos anos, "na abertura de grandes redes que influenciam o consumo de moda, e na
difusão de empresas locais de confecção que se estabeleceram com lojas em
shopping ou de rua, assim como também sob forte presença virtual".
Outra questão comentada pelos quatro, foi a falta de eventos de moda na cidade. É certo que, com esta confusão toda de desvalorização de trabalhos autorais, é mega desestimulante trabalhar em algo duvidoso. Mas, apesar disso, a cidade já foi bem mais movimentada em relação à moda. "Além do Caixa de Criadores,
que acontecia duas vezes ao ano com desfiles, cursos e mercado de moda, já
tivemos eventos de grande porte como o Pátio Fashion Days, por exemplo.
Atualmente o único que acontece é o Amazônia Fashion Week, mas acredito que o
foco acaba ficando em marcas muito artesanais, foge um pouco de uma visão
mais ampla de mercado de moda", afirma Sté.
É incrível a quantidade de informação, inspiração, matéria, etc, em Belém, na Amazônia, mas parece impossível conseguir abstrair algo de muito pra torná-lo único. Falo isso porque concordo com o Petrvs com o seguinte: "todo processo é composto de fases. Então ainda
estamos vivendo o desenvolvimento da cultura de moda nas pessoas,
principalmente no consumidor que vem descobrindo o poder comunicacional da
roupa". E ainda completo: da roupa, da internet, dos blogs.
A conclusão que chegamos é: mercado há e o autoral é difícil, mas também existe. Então, quais as vantagens e desvantagens de trabalhar com moda em Belém?
Unindo todas estas falas, tenho uma ideia: um dia ouvi um paulista dizer que Belém nem parece o Brasil. E se fizéssemos não parecer? E se pensássemos em como nos unir pra transformar a moda em algo único? Porque condições, matérias e profissionais nós temos. Temos que parar de querer ser São Paulo ou Rio, Belém é Belém e mercado tem, o que falta é enxergá-lo. Vamos gerar renda pra cidade e, assim, consequentemente, crescer?
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